Lembro de uma passagem do livro Christiane F., em que, após a primeira desintoxicação química da heroína, ela e o namorado saem de casa e pensam no que fazer naquele momento. Dizia ela que havia como que uma linha invisível que os puxava de volta aos mesmos lugares que eles frequentavam com os outros viciados: onde havia o meio de conseguir dinheiro, onde havia a venda de heroína e onde havia o consumo da droga. Eles, apesar de estarem "limpos", permaneciam ligados ao passado, à realidade do viciado. Onde mais poderiam ir, senão de volta à rotina?
De certa forma, vejo o cigarro assim também. Existe uma espécie de fio intangível que nos relembra sensações (somente as boas), que nos relembra do vício. Ontem estive com três amigos fumantes de Marlboro Lights. Peguei um maço (pra relembrar como ele era!) e fiquei com medo do cigarro. Voltando ao assunto, penso que se fumasse um cigarro - apenas um - este fio acabaria por me trazer de volta à realidade de fumante. Particularmente hoje foi um dia em que pensei bastante no ato de fumar, observei cada fumante que vi na rua, e reafirmei minha vontade de parar e minha disposição em me manter "clean".
Passei dos 100 dias! O próximo número redondo a ser alardeado será 150 dias - redondos 5 meses. Na vez que eu fiquei mais tempo sem fumar (antes desta tentativa), voltei após 5 meses. Quando eu chegar lá novamente, portanto, igualarei o meu recorde e estarei pronto para batalhas árduas e decisivas que certamente virão.
Despeço-me com um pequeno poema:
Tem dias
Tem dias que é mais fácil me deixar levar
Tem dias que eu não me deixo ser levado
Tem dias que não consigo levantar
sem reclamar
Tem dias que acordo e ordeno que o sol não tarde em levantar
Tem dias que não aguento esperar o dia acabar
Queria é me acabar com o dia
Tem dias que não consigo levantar
sem reclamar
Tem dias que acordo e ordeno que o sol não tarde em levantar
Tem dias que não aguento esperar o dia acabar
Queria é me acabar com o dia
Grande abraço a todos
K