terça-feira, agosto 26, 2008

Primeiro cigarro

Não, caro leitor. Eu não tive uma recaída. Tampouco corri o risco de acender só unzinho. Queria falar sobre como comecei a fumar.

Quando eu nasci, meu pai já era ex-fumante e minha mãe era fumante. Ela havia fumado durante toda a minha gestação. Eu e meu irmão crescemos em um ambiente de fumante e colecionávamos maços de cigarros vazios, recolhendo os de marcas diferentes que encontrávamos nas ruas. Apesar de acompanhar a vida fumante de minha mãe (ela só parou quando eu tinha uns 10 anos), a lembrança (boa) mais antiga que eu tenho é o cheiro da primeira fumaça de um cigarro aceso de uma tia minha, com o isqueiro de seu carro. Aquele cheiro penetrante é gostoso. Depois torna-se comum.

O primeiro cigarro que eu fumei foi no curso de inglês. Alguns professores passavam pelos corredores com seus cigarros acesos. Uma vez, antes de entrar em uma aula, surpreendi uma professora jogando seu Free aceso no cinzeiro, sem, entretanto, apagá-lo. Ela havia dado duas tragadas apenas. Peguei o cigarro e entrei no banheiro em frente. Tranquei-me em um box e traguei (na verdade, tentei tragar). Veio a tosse e a pergunta: "mas isto é mesmo tudo o que falam que é?". Pareceu-me estranho que uma coisa meio enjoativa - e mesmo repugnante - fosse capaz de viciar e fosse tão difícil de largar. Eu devia ter uns 14 ou 15 anos.

No meu colégio havia apenas uns três ou quatro fumantes, era muito incomum. Dois deles sempre fumavam no recreio, observados pela molecada. Eles pareciam querer dizer que eram diferentes de todo mundo, que não queriam se misturar. No mesmo colégio eu tive uma professora de português (fumante) que sempre nos dizia para não começar a fumar, pois "fumar é bom, se você começar, vai gostar e não vai deixar de fumar".

Depois que entrei na faculdade, tive muito mais contato com fumantes. É impressionante como se fuma em Campinas. Uma vez li uma reportagem que dizia que a indústria do tabaco usa deliberadamente esta cidade como "piloto" para campanhas, promoções e artimanhas comerciais. Faz todo sentido, pois há mesmo muitos fumantes por lá. Pois então, não sei exatamente o porquê, mas o fato é que no primeiro ano da faculdade eu me vi comprando uns maços de cigarro e literalmente tentando fumar! O termo certo é esse, eu acho que eu não sabia tragar, batia aquele enjôo e aquela tosse característicos da inaptidão tabagística. Lembrei-me da minha tia (a que acendia o cigarro no carro), que dizia ter aprendido a tragar quando tomou um susto atravessando uma rua... Eu continuei tentando e fui, assim, ficando cada vez mais envolvido pela nicotina e pelo cigarro. Fato é que, ao fim das primeiras férias de verão - ou seja, após o primeiro ano da faculdade - eu era um fumante convicto. Comecei a minha saga de fumante, para que fique redondo, em janeiro de 1997. Desse mês até julho de 2008 foram perto de 12 anos, fumando quase ininterruptamente. Não considero que comecei a fumar para me inserir socialmente, até porque já estava inserido no novo contexto universitário para onde fui. A maior parte dos meus amigos de classe e de curso não era fumante. Acho que, no meu caso, o que pesou mesmo foi a curiosidade, a vontade mesmo de fumar, de tragar e de soltar a fumaça. Isso me lembra de mais um motivo para parar de fumar: eu não quero que um filho (que ainda não tenho), ou uma sobrinha (que terei a partir de novembro), cresça vendo o pai ou o tio fumando cigarro (já basta a afilhada linda que eu tenho ter visto...). Definitivamente, não seria um bom exemplo. Seria, sim, um fato a lamentar.

Esta é a minha história. Cheguei ao ponto de ter vergonha de mim mesmo por ser fumante. Certa vez um amigo me perguntou: "logo você, Karenin, geneticista, fumar mais de um maço por dia?". Pois é: o que eu posso responder para o cidadão???

Minha resposta, muda, quieta, encolhida, na forma de um blog, está aqui. Estou tentando me livrar, estou conseguindo. Passo a passo, um dia de cada vez, comemorando cada pequena vitória. Eu vou conseguir porque não vejo mais razão para continuar fumando. A dependência psicológica estará sempre aí para me tentar, para me testar. Como fica claro a partir do título do blog: no meu castelo, mando eu. Ou, pelo menos, quem tem que mandar sou apenas eu.

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